domingo, 28 de fevereiro de 2010

PRÉMIO PARA MARIA VELHO DA COSTA


Maria Velho da Costa foi a grande vencedora do Prémio Literário Casino da Póvoa, atribuído ao seu romance Myra (Assírio & Alvim) que esteve a concurso entre 160 livros de autores de língua portuguesa, castelhana ou hispânica. O prémio inscreve-se no programa do encontro "Correntes de Escritas", anualmente organizado na Póvoa de Varzim e que, este ano, reuniu cerca de 65 escritores.
O júri era constituído por Carlos Vaz Marques, Dulce Maria Cardoso, Fernando J.B. Martinho, Patrícia Reis e Vergílio Alberto Vieira.

NOTA: lembramos que Maria Velho da Costa, uma das grandes vozes da literatura portuguesa contemporânea, esteve já na Bibiloteca da nossa Escola, a orientar uma interessantíssima oficina de escrita (como pode ver-se na foto).

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Chimamanda Adichie: O perigo da história única

A escritora nigeriana Chimamanda Adichie conta como aprendeu a compreender que é perigoso conhecer uma única história, que é como quem diz, olhar alguém ou uma realidade, sob uma só perspectiva.


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

ONDE NÃO ESTOU, TU NÃO EXISTES

onde não estou, tu não existes, de Marta Chaves, é um livro singular. São 21 poemas breves (5 deles têm apenas 1 verso, o mais extenso tem 8 versos), respiração de uma fortíssima intensidade emocional e textual que a escassez das palavras parece sublinhar.
O título abre para um universo de referências (a relação sujeito-objecto) claramente vinculadas à Filosofia e à Psicanálise. E se esta é uma linha de sentido que perpassa por aqui, uma outra, igualmente cara a estes domínios, se cruza com ela - a linguagem. Temos, então, que este é um livro sobre a relação do eu com o outro, uma relação que é instaurada pela palavra, o nome, ou, na impossibilidade de nomear, pelo silêncio. Na verdade, este é também um livro onde o silêncio se faz ouvir, desde o primeiro poema
Exerço muitas vezes o ofício de estrangeira
com pouca fé de que na impossibilidade da língua
se entenda a natureza dos meus gestos.
ou mais adiante
Escrevo-te cartas que difundem o meu silêncio.
ou ainda
Fico só
entre mim e o nome que dou às coisas.

Não se pense, no entanto, que Marta Chaves procura na Filosofia ou na Psicanálise um abrigo redutor, ou comprometedor, da dimensão poética dos seus versos. Muito longe disso, estes poemas (ou o poema contínuo, para usar uma expressão roubada a Herberto Helder) são pura poesia, tecida palavra a palavra, linguagem densa e depurada. Com estas palavras se enuncia o (des)encontro com o outro, o amor, a perda, a fuga, o rapto. Com estas palavras, colhidas laboriosamente no dicionário mais íntimo, se indicia uma narrativa (e uma geografia)
Esta cidade está repleta de pequenos raptos,
de andaimes suspensos no tempo da minha memória.

Lembrar que este é o primeiro livro de Marta Chaves, depois da estreia na revista "Criatura", e da presença na blogosfera literária, não é irrelevante. Porque é necessária uma grande maturidade estilística para publicar assim, para escrever assim, com este rigor e esta escassez. É preciso um domínio muito eficaz da linguagem, para virar as palavras do avesso e depois devolvê-las intactas e transparentes ao labor da representação. É preciso deixar para trás muitos cadernos de versos para, num só verso, escrever
Chegam cobertas de pó as coisas imaginadas.

onde não estou, tu não existes é um livro cuja leitura nos obriga a parar, porque só no silêncio do encontro com a substância da palavra poética, saberemos desocultar o que apenas se pressente.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

RODA DE LIVROS



Toda a gente sabe que a invenção da roda foi uma das mais fabulosas que o ser humano jamais realizou, e as extraordinárias mudanças que trouxe à sua existência. Sem rodas, como seria a nossa vida?
O que muitos ainda não experimentaram foi a magia de pertencer, ou mesmo só de assistir, a uma “Roda de Livros”, como a que teve lugar na Biblioteca. A turma B do 10º ano, simpática, “boa onda”, divertida, com a professora de Português, também, a falar de coisas muito sérias com a naturalidade e à vontade com que se deve falar das coisas sérias.
Ora vamos lá a ver. Cheguei atrasada, segundo um dos alunos, perdi o melhor... O que seria, se o resto foi tão bom?! Soube depois que foi a apresentação de um livro que li de um fôlego, daqueles que lemos e depois andamos a querer convencer toda a gente de que não pode de maneira nenhuma perdê-lo: A Sombra do Vento, do catalão Zaffon, romance premiado no ano em que saiu, logo aqui em Portugal, no Correntes de Escritas (o importante encontro de literatura de expressão ibérica, que todos os anos se realiza na Póvoa do Varzim). Que pena não ter ouvido!
Mas ouvi falar do Siddartha, de Hermann Hesse, da procura do ser, do caminho para lá, percebi como foi bem feita a escolha do que devia ser dito, apreciei como alguém perguntou, concluiu – “Então, é como se esse fosse o caminho da vida?” (Não foi bem assim, mas garanto que o sentido foi esse.)
Ouvi falar d’ O Carteiro de Pablo Neruda, daquela tocante amizade entre o carteiro e o poeta, daquele amor do carteiro que o poeta ajudou a conquistar. Das cartas sonoras que o carteiro enviou ao poeta, quando este precisou de recordar.
Do inesquecível Por Quem os Sinos Dobram, de Hemingway, do intemporal Diário de Anne Frank.
Também de As Brumas de Avalon, que um divertido leitor confessou ter partes “com bolinha” e que foram exactamente essas que lhe agradaram mais.
E ainda houve tempo para um magnífico policial de Agatha Christie, para acabar em suspense.
Nada quebrou aquele círculo perfeito, as apresentações cativantes, as perguntas inteligentes, outras ligeiras e bem humoradas (“Quanto tempo levaste a ler esse livro?”- 6 vezes..., “Mas há história de amor?”, “E o rapaz, era bonito?”), mas sempre com um grande companheirismo. Não sei se a palavra está fora de moda, mas foi o que achei e me agradou mais. Temos turma!
Como dizia o senhor Pedro no final, “Ficava aqui o resto da manhã a ouvi-los.”

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

PALAVRAS COM MÚSICA

Durante um certo tempo, houve, no andar de cima, alguém a arrastar mobília; cá em baixo, na Biblioteca, contudo, nem se dava por isso.

Algures, um telefone tocou: mal se deu por isso.

Estava também presente pelo menos uma turma de alunos que, às vezes, se mostram irrequietos: ali, pareciam em transe.

Vi olhos abertos, rostos em beatitude, expressões de enlevo. Não pensem que exagero ou que falo de uma ida à missa.
Estávamos, repito, na Biblioteca. Eram doze horas e quarenta e cinco minutos.
Perante o número ideal de assistentes - três turmas: 10º F, 11º F, 12º B -, recuperava-se o belíssimo espectáculo de poesia e música a que já algumas pessoas tinham assistido, no fim do período passado, num dos dias em que oficialmente a escola comemorou os seus 30 anos.

Não houve outro critério, na escolha dos poemas, que não fosse o do gosto dos que os disseram. Nem cronológicos, nem temáticos: foram apenas jovens, a Inês Lourenço, o Guilherme Santos, o João d'Eça, a Maria Carlos Cortegaça, a Sara Meess, a Verónica e a Beatriz Braz, que nos vieram mostrar a poesia que os toca: Cesariny, Neruda, Ary, Sophia - num poema dedicado ao Professor Lucas, que tanto dela gostava -, Ramos Rosa, Pessoa, Pessanha e Eugénio. As suas palavras ecoaram na Biblioteca, suspensas dos acordes das violas. (João Paulo e João Secca).

A seguir, duas alunas, a Minerva e a Isabela, tocaram clarinete e flauta, em melodias de balanço brasileiro, onde pressentíamos, por exemplo, a poesia de Vinícius («Quando a luz dos olhos meus/ Encontra a luz dos olhos teus...»); a fechar, a Andreia cantou naquela sua voz de que, ainda ela não acabara, e já nós começávamos a sentir saudades.

Foi um dos momentos mais maravilhosos que a Biblioteca guardará - e olhai lá, que a Biblioteca tem tido muitos momentos maravilhosos.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

CRÓNICA DE VIAGEM


O Projecto Cosmix, da Biblioteca/Centro de Recursos da nossa escola, procura, fundamentalmente, divulgar Banda Desenhada (BD). Em todas as suas formas, sensibilidades e possibilidades, desde alguma coisa da que é produzida na América do Norte ou no Japão, grandes expoentes dos "quadradinhos", até muita da europeia (nomeadamente a franco-belga, mas não esquecendo o que se vai fazendo em Portugal...)

Este ano, o projecto parecia adormecido. «Parecia».

Recebemos um amável convite da Escola Secundária Fernando Lopes Graça, da Parede, para aí apresentar a palestra O Maior Voo dos Super-heróis: dos Comics para o Cinema, que já tinha sido um sucesso entre nós. Reunimos, então, os dinamizadores dessa sessão: Guilherme Santos, João Sacramento, João d'Eça, alunos do 11º ano, e João Lemos, o excelente desenhador (de comics, precisamente) que trabalha para a Marvel (diz-vos algo? A empresa que põe cá fora o Homem-Aranha, o Incrível Hulk, o Capitão América, o Surfista Prateado, entre outros...)

Partimos de Linda-a-Velha às dez horas. Um pouco antes das dez e meia estávamos na escola da Parede.
Um auditório aguardava-nos. (Um auditório com bancos bem confortáveis, de nos fazer roer de inveja!). E, nesse auditório, um público de cerca de cem alunos (do 7º ao 12º anos) e alguns professores dava-nos ruidosas boas-vindas.

A sessão não poderia ter corrido melhor. Um pouco nervosos, ao princípio, os jovens oradores foram ganhando confiança, lançando piadas, referindo a maneira como o cinema se tem apropriado das personagens desenhadas.
Na segunda parte, João Lemos estava imparável. Com microfone, enquanto o dito funcionou, sem precisar de microfone quando este cedeu e se deixou ultrapassar pelo seu brilho e pelo seu talento, J. L. principiou por uma arqueologia da BD, desde a sua mais remota génese, não se escusando, no fim, a falar sobre o seu próprio trabalho.

Foi difícil conseguir que o jovem público saísse, dali, para as aulas seguintes.
Fizeram perguntas; houve mesmo um grupo entusiasta que rodeou os visitantes, mantendo-se (e mantendo-os) ali de pé firme; tivemos, depois, direito a uma visita guiada à Biblioteca da Escola da Parede.

Foi tudo muito bom. Foi muito, muito bom.

Ao Guilherme, ao Sacramento, ao Eça e ao impagável João Lemos, o Projecto Cosmix agradece a disponibilidade e a qualidade das intervenções.

À escola Secundária Fernando Lopes Graça, agradecemos o convite, a curiosidade, a atenção, a hospitalidade.

VIVA A MÚSICA


Há uma espécie de osmose nas paredes e objectos de certos lugares, absorvem vozes, risos, rostos, pensamentos. Eu acho. E tenho a certeza de que a Biblioteca é um desses lugares. Talvez pelos livros, testemunhas silenciosas e cúmplices de todos os momentos.

Numa destas segundas feiras, foram a Anabela, o seu violino, a Catarina e o Sérgio, a música de Mendelssohn, o silêncio interessado, curioso, dos colegas do 12ºA e 12º F, presenças habituais e sempre bemvindas.

De novo, obrigada e parabéns!


P.S. - Foi a primeira sessão na Biblioteca azul. Não podia ter havido melhor estreia.